Este post é dedicado a todos os narnianos, meus compatriotas, em especial àqueles que conheço de fóruns, do orkut, da lista do yahoo, do Narnianos.com e principalmente ao meu marido, que entende minha mania e me incentiva sempre!

Me pediram para falar aqui no blog um pouco sobre Nárnia. O Josh achou que estava faltando falar sobre este fantástico mundo (ele também achou que eu deveria fazer um texto sobre 'Til We Have Faces, mas acho que isso é muita areia pro meu caminhãozinho, não só por ser um livro extremamente filosófico, mas também por ser simplesmente o livro favorito de Lewis).
Mas há um motivo para eu ter evitado falar sobre Nárnia: eu fiquei intimidada. Tenho medo de falar e não fazer jus à grandeza da obra, e principalmente de não conseguir exprimir exatamente o que os livros são para mim. Mas eu vou tentar.
Para começar, acho que devo falar sobre o que é ser fã de uma história rotulada como infanto-juvenil e fantasia. Já vou avisando: não é fácil. A primeira reação da maioria das pessoas quando me veem falando com entusiasmo sobre Nárnia é dar um sorriso condescendente. Nem quero imaginar o que passa pela cabeça de tais indivíduos. No mínimo pensam coisas como "Mas essa macaca velha não tá meio passadinha pra ficar lendo histórias de crianças?" Lamento muito informar, mas o símio idoso aqui não sou eu, é você, caro colega. Aqui a Nação Narniana vai se lembrar do macaco Manhoso de A Última Batalha e se divertir um pouco. Quem está sorrindo agora?
Eu acredito que o mesmo, ou algo parecido, aconteça com quem é fã da trilogia O Senhor dos Anéis e outras obras de Tolkien. Afinal, qual é o problema das pessoas com a literatura fantástica? Se dois brilhantes acadêmicos britânicos, um de Oxford e outro de Cambridge, dedicaram parte de suas vidas para criar mundos fantásticos nos quais podemos viajar e sonhar, quem somos nós para falar alguma coisa? Eu definitivamente não gosto de gente sem imaginação e que não sabe se maravilhar diante das coisas simples da vida. (Talvez o fato da Trilogia do Anel de Tolkien ter sido transportada para as telas de cinema e resultado em filmes "sérios" contribua para a diminuição do preconceito em relação a esta obra. Mas quem leu sabe que os filmes cortaram boa parte da magia e do encanto presentes nas páginas dos livros.)
Para quem está de fora e não entende muito bem esse papo de ser Narniano e acha que é bobagem, aqui vai uma breve explicação: As Crônicas de Nárnia nunca foram pensadas por Lewis para serem uma espécie de evangelização disfarçada para crianças. Não. O que aconteceu, segundo o próprio Lewis, é que o cristianismo, por estar tão presente na vida dele, acabou perpassando quase toda a sua obra de ficção (que, diga-se de passagem, floresceu após sua conversão). Não havia outro jeito, foi apenas natural que acontecesse. Mas, mesmo com isso, as Crônicas de Nárnia não são livros direcionados para o público cristão. Conheço inclusive muitos ateus e inúmeros adultos que são fãs da septologia. Acho que isso é um dos maiores atestados da qualidade da obra de Lewis, além de sua permanência como sucesso de leitura após quase 60 anos.
Então, aqueles que se denominam Narnianos têm um lema: Quero viver como um narniano, ainda que Nárnia não exista. A frase é do livro A Cadeira de Prata, a quarta crônica, e é dita por um paulama (longa explicação, é melhor você ler o livro) quando a Feiticeira Verde tenta convencer a ele e mais três humanos de que Nárnia não existe. Ela resume a filosofia de quem sonha com as terras além da SalaVazia e com o Grande Leão. Os motivos de cada um eu não sei, mas eu particularmente gosto do ar, da sensação, da presença de Nárnia, que sinto bem forte, quando leio os livros; da alegria ao ver que Aslam vai aparecer a qualquer instante; da possibilidade de enxergar Nárnia através dos olhos de Lúcia, a mais doce personagem e também a mais chegada ao Grande Leão; das semelhanças que vejo entre Aslam e seu equivalente em nosso mundo e o amor daquele pelos narnianos, tão profundo quando o de Jesus por nós; e gosto também do tipo de relacionamento indireto que tenho com Lewis.
Citando Bruce Edwards, "Lewis vive mas ao mesmo tempo já se foi; eu ouço a voz dele, sinto sua presença, ele fala comigo pelas páginas, mas ele não está ali. Este é o poder da palavra escrita."