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domingo, 29 de novembro de 2009

Feliz aniversário, Jack

Texto #8 (e último) da Semana C.S. Lewis




Querido Jack,

Gostaria de poder falar aqui que o mundo parou para ler e ouvir o que você tinha a dizer. Tudo bem, algumas poucas e bem-aventuradas pessoas o fizeram, porém a grande maioria da humanidade seguiu em frente fazendo o que sabe de melhor: roubando, matando uns aos outros, e basicamente mentindo a respeito de tudo.

O dia da sua partida foi extremamente triste, porque o mundo perdeu um grande homem, um pensador brilhante, um cavalheiro como não se encontrava mais, e um cristão dedicado e exemplar. Sim, você podia colocar em si mesmo todos os defeitos, mas ainda assim foi um exemplo para todos nós. Porém nesse mesmo dia, partiram um outro autor famoso e um presidente americano, cuja morte foi muito chocante e atraiu muita - senão toda ela - atenção. Talvez tenha sido até do jeito que você gostaria que fosse: sem chamar a atenção, sem falsos elogios post-mortem, com apenas aqueles que lhe eram mais queridos ao seu lado.

Hoje, quase 50 anos depois de sua partida, e exatamente 111 anos passados do seu nascimento, eu posso dizer que sou uma cristã melhor graças à obra que você deixou escrita. Deus sabe que não O substituí idolatrando você. Eu mesma seria estúpida se fizesse isso, pois seria a primeira coisa que você condenaria e acharia no mínimo ridículo - e eu não quero você rindo de mim. Bem, quer que eu resuma de um jeito que você vai entender muito bem? Você é o meu George McDonald. Pronto. Se um dia eu tiver um sonho como aquele seu, você será o gigante a visitar o meu fantasma, estamos combinados?

Bem, eu só quero então agradecer por tudo que você fez por aqui. Inclusive seus erros (se é que me atrevo a isso), pois com eles você aprendeu, e eu também, sempre que você escreveu sobre eles. Alguns dos seus defeitos são os mesmos que os meus: excesso de crítica em relação à igreja, enfado com pregações medíocres, falta de paciência com quem não gosta de contos de fada, a preferência por me manter num círculo fechado de conhecidos sem ser amolada por ninguém de fora. Por sorte, uma das minhas qualidades me levou a você: o prazer pela leitura.

Foi o que me fez me apaixonar por Nárnia, Aslam, Lúcia, Edmundo, Shasta, Brejeiro, Diggory, Ransom, Mark e Jane, Orual, Psiquê... Você criou mundos maravilhosos e nos presenteou com eles. Até hoje seus livros são lidos, comentados e admirados. Espero que a cada dia seu número de leitores cresça - eu com certeza faço minha parte para que isso aconteça. Seu talento para explicar com clareza princípios simples e essenciais para a vida cristã era um dom que foi muito bem-aproveitado. Hoje tenho certeza de que há cristãos que suportam melhor a dor, entendem melhor o amor e defendem melhor a sua fé graças aos seus escritos. Não se preocupe, você fez, e muitíssimo bem, a sua parte pelo Reino. Sua luta no "território ocupado" foi bem-sucedida e nunca em vão.

Não espero que esta carta seja lida por você, mas isto é um ensaio para o que tentarei dizer no dia em que nos encontrarmos no alto daquelas montanhas. O Sol talvez já terá nascido e estaremos vivendo a plenitude da Manhã que esperamos há muito tempo (você mais do que eu), e não sei realmente se terei que dizer alguma coisa ou se só de olhar para mim você irá reconhecer uma "pupila". Mas eu certamente irei olhar embevecida (teremos olhos e lágrimas?) e dizer com emoção (teremos bocas e cordas vocais?): Muito obrigada.

*****

Este texto tem várias referências a livros do Lewis. Se você não entendeu, eu sugiro que leia: Cristianismo Puro e Simples, A Trilogia de Ransom, As Crônicas de Nárnia e O Grande Abismo.

sábado, 28 de novembro de 2009

Jack & Joy

Texto #7 da Semana C.S. Lewis


Numa semana dedicada a C.S. Lewis, não dá para não mencionar aquela que foi o grande amor de sua vida: Joy.

Nascida Helen Joy Davidman, em 18 de abril de 1915, esta nova-iorquina de família judia e com ancestrais poloneses e ucranianos mostrou seu brilhantismo bem cedo. Aprendeu a ler antes dos 3 anos, aos 8 leu História Universal, de H.G. Wells, e se declarou ateísta. Com 23 anos, ela ganhou um dos mais prestigiosos prêmios que um jovem poeta pode receber, o Yale Younger Poets Series Awards, por sua coletânea Cartas a um Camarada. Ela possuía memória fotográfica, podendo memorizar uma página de Shakespeare com uma só olhada, e seu QI era muito acima da média.

Seu irmão, o psiquiatra Howard Davidman, contou certa vez que ele e ela gostavam de ir ao zoológico do Bronx para conversar com os animais. Mas isso não era suficiente para Joy, então com 14 anos: ela queria um contato mais direto com os grandes felinos. Então os dois irmãos passaram a pular os portões do zoológico durante a noite. Eles atraíam os leões para perto da grade, e Joy conversava com eles, fazia carinho na cabeça deles e eles comiam direto na mão dela. As aventuras continuaram durante muito tempo sem nenhum incidente e sem que eles fossem descobertos.

Após testemunhar um suicídio durante a Grande Depressão, Joy tornou-se comunista. Ela acreditava ser esse o caminho para solucionar os problemas pelos quais seu país passava na época. Foi numa reunião do Partido Comunista que ela conheceu seu primeiro marido, William Gresham, autor noir americano que ficou famoso por lá na década de 1940. Porém Gresham não era flor que se cheirasse: ele era alcoólatra, adúltero compulsivo e também violento. Ele disparava com sua espingarda em direção ao teto para aliviar a tensão e uma vez quebrou uma garrafa na cabeça de seu filho Douglas.

Certa noite, em 1946, Gresham ligou para Joy dizendo, incoerentemente, que estava tendo um colapso nervoso. Ela colocou os dois filhos na cama e esperou pelo marido, sentindo-se desesperançada e derrotada pela primeira vez na vida. Segundo ela, foi nessa noite que "Deus entrou".

"Havia uma Pessoa comigo naquela sala, diretamente presente na minha consciência - uma Pessoa tão real que toda a minha preciosa vida era em comparação apenas uma sombra. E eu estava mais viva do que jamais havia estado; era como acordar de um sonho. Uma vida tão intensa a carne e o sangue não conseguem suportar por muito tempo; temos que viver nossas vidas diluídas no tempo, no espaço e na matéria. Minha percepção de Deus talvez tenha durado meio minuto."

A conversão de Joy só piorou sua situação com o marido, que começava a flertar com a Dianética, que foi antecessora da Cientologia. Ela pediu ajuda a uma prima que havia acolhido em casa (esta estava fugindo de um marido abusivo) e foi buscar conselho com C.S. Lewis, com quem a esta altura ela já havia trocado muitas cartas, e que havia se tornado uma espécie de mentor espiritual. A viagem dela à Inglaterra foi um sucesso, porém em casa a prima e o marido começaram a ter um caso. Gresham queria o divórcio, e Joy queria a reconciliação. Mas não deu certo, principalmente depois que o marido a espancou após seu retorno aos Estados Unidos.

Em 1953, Joy emigrou para a Inglaterra. Ela buscava talvez mudar de ares, ficar mais perto do novo amigo Lewis e também fugir da caça aos comunistas que ocorria nos EUA. Seu primeiro casamento com Lewis foi de fachada: ele o fez para que ela obtivesse o visto de permanência no país. A amizade continuou, porém Joy ficou doente e Lewis talvez tenha percebido o que estava prestes a perder. Na cama do hospital, o segundo casamento (dessa vez no religioso) foi o que valeu. A morte de Joy, segundo os médicos, era iminente. Porém Deus foi misericordioso e o câncer dela entrou em remissão. Eles viveram quatro anos felizes antes da doença voltar a se manifestar.

Como Douglas Gresham afirmou, Lewis encontrou em Joy sua equivalente intelectual. A amizade entre eles era natural, e o amor incondicional foi uma bênção extra que ambos encontraram literalmente no final na vida. Lewis partiu apenas três anos após a morte de Joy.

Coincidentemente, em muitos de seus livros, Lewis menciona que passou a vida procurando algo e que ele não sabia o que era. Era um anseio e um desejo intenso, que ele vislumbrava em momentos raros sem conseguir definir o que era. Só após sua conversão e compreensão do que somos, de onde viemos e para onde vamos, é que ele entendeu que aquilo pelo qual ele tanto ansiava era algo que ele chamava de Alegria, a saudade do nosso lar eterno. Alegria, como Joy.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Viver como um narniano, ainda que Nárnia não exista

Texto #6 da Semana C.S. Lewis

Este post é dedicado a todos os narnianos, meus compatriotas, em especial àqueles que conheço de fóruns, do orkut, da lista do yahoo, do Narnianos.com e principalmente ao meu marido, que entende minha mania e me incentiva sempre!

Me pediram para falar aqui no blog um pouco sobre Nárnia. O Josh achou que estava faltando falar sobre este fantástico mundo (ele também achou que eu deveria fazer um texto sobre 'Til We Have Faces, mas acho que isso é muita areia pro meu caminhãozinho, não só por ser um livro extremamente filosófico, mas também por ser simplesmente o livro favorito de Lewis).

Mas há um motivo para eu ter evitado falar sobre Nárnia: eu fiquei intimidada. Tenho medo de falar e não fazer jus à grandeza da obra, e principalmente de não conseguir exprimir exatamente o que os livros são para mim. Mas eu vou tentar.

Para começar, acho que devo falar sobre o que é ser fã de uma história rotulada como infanto-juvenil e fantasia. Já vou avisando: não é fácil. A primeira reação da maioria das pessoas quando me veem falando com entusiasmo sobre Nárnia é dar um sorriso condescendente. Nem quero imaginar o que passa pela cabeça de tais indivíduos. No mínimo pensam coisas como "Mas essa macaca velha não tá meio passadinha pra ficar lendo histórias de crianças?" Lamento muito informar, mas o símio idoso aqui não sou eu, é você, caro colega. Aqui a Nação Narniana vai se lembrar do macaco Manhoso de A Última Batalha e se divertir um pouco. Quem está sorrindo agora?

Eu acredito que o mesmo, ou algo parecido, aconteça com quem é fã da trilogia O Senhor dos Anéis e outras obras de Tolkien. Afinal, qual é o problema das pessoas com a literatura fantástica? Se dois brilhantes acadêmicos britânicos, um de Oxford e outro de Cambridge, dedicaram parte de suas vidas para criar mundos fantásticos nos quais podemos viajar e sonhar, quem somos nós para falar alguma coisa? Eu definitivamente não gosto de gente sem imaginação e que não sabe se maravilhar diante das coisas simples da vida. (Talvez o fato da Trilogia do Anel de Tolkien ter sido transportada para as telas de cinema e resultado em filmes "sérios" contribua para a diminuição do preconceito em relação a esta obra. Mas quem leu sabe que os filmes cortaram boa parte da magia e do encanto presentes nas páginas dos livros.)

Para quem está de fora e não entende muito bem esse papo de ser Narniano e acha que é bobagem, aqui vai uma breve explicação: As Crônicas de Nárnia nunca foram pensadas por Lewis para serem uma espécie de evangelização disfarçada para crianças. Não. O que aconteceu, segundo o próprio Lewis, é que o cristianismo, por estar tão presente na vida dele, acabou perpassando quase toda a sua obra de ficção (que, diga-se de passagem, floresceu após sua conversão). Não havia outro jeito, foi apenas natural que acontecesse. Mas, mesmo com isso, as Crônicas de Nárnia não são livros direcionados para o público cristão. Conheço inclusive muitos ateus e inúmeros adultos que são fãs da septologia. Acho que isso é um dos maiores atestados da qualidade da obra de Lewis, além de sua permanência como sucesso de leitura após quase 60 anos.

Então, aqueles que se denominam Narnianos têm um lema: Quero viver como um narniano, ainda que Nárnia não exista. A frase é do livro A Cadeira de Prata, a quarta crônica, e é dita por um paulama (longa explicação, é melhor você ler o livro) quando a Feiticeira Verde tenta convencer a ele e mais três humanos de que Nárnia não existe. Ela resume a filosofia de quem sonha com as terras além da SalaVazia e com o Grande Leão. Os motivos de cada um eu não sei, mas eu particularmente gosto do ar, da sensação, da presença de Nárnia, que sinto bem forte, quando leio os livros; da alegria ao ver que Aslam vai aparecer a qualquer instante; da possibilidade de enxergar Nárnia através dos olhos de Lúcia, a mais doce personagem e também a mais chegada ao Grande Leão; das semelhanças que vejo entre Aslam e seu equivalente em nosso mundo e o amor daquele pelos narnianos, tão profundo quando o de Jesus por nós; e gosto também do tipo de relacionamento indireto que tenho com Lewis.

Citando Bruce Edwards, "Lewis vive mas ao mesmo tempo já se foi; eu ouço a voz dele, sinto sua presença, ele fala comigo pelas páginas, mas ele não está ali. Este é o poder da palavra escrita."

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Meu padrasto, C.S. Lewis

Texto #5 da Semana C.S. Lewis


Meu padrasto, C.S. Lewis
por Douglas Gresham

Muitos escreveram sobre ele, mas a maioria via o autor das Crônicas de Nárnia como um intelectual isolado. Aqui, o enteado de Lewis, Douglas Gresham, recorda um herói.

4 de outubro de 2007
Jornal The Guardian
(Por ocasião da re-estréia da peça Shadowlans em Londres.)

A hoje famosa peça Terra das Sombras, que está prestes a re-estrear no West End de Londres, é uma de muitas obras sobre o meu falecido padrasto, C.S. Lewis. Foram feitos livros (muitos livros, dos quais eu escrevi dois), peças, filmes e até músicas sobre ele. Essas obras variam entre boas, ruins e horríveis, a maioria escrita por pessoas que mal o conheciam ou mesmo não o conheciam ao todo. Elas podem te dizer (com vários graus de inexatidão) o que ele era, onde ele esteve, quando e o que ele fez, mas quase nenhuma delas pode te dizer quem ele era.

Enquanto ele viveu, eu nunca conheci C.S. Lewis, o nome nas lombadas dos livros. Pois o homem de carne e osso encantadoramente falante que preencheu a minha juventude com sua presença se chamava Jack. Meu primeiro encontro com ele foi extraordinário. Eu era um estudante americano de oito anos, um imigrante recém-chegado, trazido para Oxford logo depois de chegar a essa estranha terra da Inglaterra, onde as pessoas se vestiam de modo esquisito, falavam esquisito e comiam comidas estranhas e improváveis. Eu fui levado para o homem que, até onde eu sabia, realmente conhecia o Magnífico Rei Pedro de Nárnia e o grande Leão Aslam; um homem que, até onde eu sabia, poderia ser um membro da corte do rei Artur. Eu quase esperava uma figura alta e robusta, vestindo uma armadura e carregando uma espada, mas a realidade era bem diferente. Na cozinha da sua casa, The Kilns, fomos recebidos por um homem ligeiramente encurvado, calvo e de ombros caídos, com dedos e dentes manchados de nicotina, vestindo as roupas mais surradas que eu jamais vira. Aquele não era um cavaleiro, era um acadêmico. Um acadêmico da Oxford daquela época.

Apesar do meu espanto inicial, logo Jack emergiu do meu C.S. Lewis imaginário para se tornar real. Eu perdi uma ilusão, mas ganhei no começo um amigo, e mais tarde um padrasto muito amado.

Dentro de pouco tempo, Jack, Warnie (o irmão de Jack, Major Warren H. Lewis) e eu estávamos serrando uma pilha de galhos para fazer lenha. Jack e Warnie, embora fossem acadêmicos, não se negavam a cumprir tarefas humildes. Jack me mostrou a floresta e o lago atrás de The Kilns, e me ensinou a procurar faunos e dríades entre os sicômoros brilhantes e as faias cintilantes. Com ele aprendi a respeitar as plantas, como as enormes cavalinhas do pântano acima do lago; aprendi a amar os campos, as florestas e os animais; a me deliciar com o tempo, dos ventos sibilantes ao silêncio tranqüilo, da chuva torrencial aos raios brilhantes do sol; tudo tem o seu lugar no meu coração, e isso eu aprendi com Jack.

Jack também me ensinou a ler. Não a ler como alguém aprende na escola, mas a ler pelo gosto de ler e de aprender, pois toda a sabedoria do mundo pode ser encontrada em livros. Jack me ensinou isso. A casa era cheia de livros, e nenhum era proibido para mim.

No começo, eu morava em Londres e visitava The Kilns esporadicamente, mas em pouco tempo nos mudamos para Headington, a cerca de um quilômetro e meio, e Jack deixou claro que eu era um visitante bem-vindo. Alguns dos mitos sobre Jack, e existem muitos, vieram do próprio punho dele. “Não sou bom com crianças”, ele disse, mas eu dificilmente via alguém melhor do que ele era com crianças. Acho que ele quis dizer que nunca ficava à vontade com elas, mas ninguém deve ficar totalmente à vontade com os filhos de outras pessoas. Alguns o chamaram de misógino, mas eu nunca conheci um homem tão atencioso com as mulheres, nem alguém tão encantador e divertido quando estava na companhia delas.

Acho que, no mundo triste e sombrio em que vivemos hoje, muitas pessoas terão dificuldade de acreditar no verdadeiro Jack. Ele era um homem que crescera com a mentalidade do século 19. Ele acreditava em honestidade, responsabilidade, compromisso, dever, cortesia, coragem, cavalheirismo e todas as grandes qualidades que a sociedade do século 20 abandonou, dizendo que elas estavam obsoletas, mas que agora precisam desesperadamente ser recordadas e recuperadas. Jack também entendia bastante da humanidade e da natureza das espécies. Ele conhecia o sofrimento: ele perdeu a mãe aos nove anos de idade, experimentou os horrores de uma escola que parecia saída de um conto de Charles Dickens, e outras escolas em diversos graus de valor. Jack lutou na Primeira Guerra Mundial e assistiu a segunda, perdendo amigos e colegas em ambas. Ele manteve o compromisso firmado com o soldado e colega Paddy Moore na véspera da batalha, cuidando da família daquele homem durante mais de 30 anos. Jack aprendera a amar e a perder, e sofrera as agonias de ambos. Ninguém poderia condená-lo se ele tivesse se fechado e se tornado (como muitas vezes é descrito) um acadêmico isolado. Em vez disso, livre da responsabilidade de cuidar da Sra. Moore após a morte desta, ele mergulhou mais uma vez no amor e na dor ao se casar com a minha mãe, que já estava morrendo na época. Ele encarou a dor de amar alguém que ele sabia que provavelmente não estaria com ele por muito tempo, e também tomou para si a responsabilidade dos filhos dela, meu irmão e eu. Já não é uma tarefa fácil na melhor das circunstâncias, mas, naquelas em que ele se encontrava, era a tarefa de um verdadeiro herói.

Minha mãe era americana, e encontrou a verdade de Cristo através da leitura de Cristianismo Puro e Simples e outras obras de Jack. Ela escrevera para ele sobre as dúvidas dela pois, como todas as pessoas muito inteligentes, ela tinha dúvidas. Ela ficou encantada quando ele respondeu às questões e objeções dela de forma magistral e econômica, e uma correspondência animada logo se avolumou. Minha mãe visitou a Inglaterra em 1952 e ela, Jack e Warnie logo se tornaram amigos. Minha mãe era o equivalente intelectual de Jack, a única que eu já vi, e Jack ficava encantado quando, durante as discussões entre eles, ela corrigia pequenos erros dele sobre citações e outros detalhes. Minha mãe era um pouco mais lida do que Jack, pois ela lera tudo que ele lera, mas também os escritores americanos mais modernos. Ela também viajara mais, indo aos Estados Unidos e retornando com os filhos em 1953, quando o casamento dela com o meu pai acabou. Jack e a minha mãe se casaram quando ela estava no leito de morte, mas a mão de Deus interveio e ela se recuperou, entrando numa remissão do câncer que durou vários anos, anos esses que foram os mais felizes das vidas deles. Foi nessa época que a coragem física que ambos possuíam tornou-se evidente para mim. Estávamos subindo a colina em direção às árvores, minha mãe carregando a sua pequena “arma de jardim”, que ela usava para espantar os pombos da nossa horta e os invasores das nossas terras, quando os dois, um pouco à minha frente, foram abordados por um jovem carregando um arco e uma aljava cheia de flechas. “Com licença”, disse Jack educadamente, “esta é uma propriedade privada e você não deveria estar aqui. Poderia se retirar por favor?” A resposta do rapaz foi tirar uma flecha da aljava e preparar o arco, apontando para eles. Jack ficou na frente da minha mãe para protegê-la, e ficou ali alguns segundos até que a ouviu dizer em um tom gelado: “Droga, Jack, saia da minha linha de tiro!” Em seguida, Jack deu um rápido passo para o lado, deixando o jovem rapaz frente a frente com o cano da espingarda. Ele sumiu rapidamente. Eles foram corajosos, e Jack depois disso precisou ser ainda mais, pois a minha mãe partiu antes dele, deixando-o sozinho para lidar com a ausência dela.

C.S. Lewis foi um grande sábio? Sem dúvidas. Foi um grande escritor? Nenhum estudioso hoje em dia pode duvidar disso por um momento. Agora, algumas de suas histórias estão virando filme e ele está ficando mais conhecido no mundo inteiro, acelerando grandemente uma tendência que vem acontecendo lentamente nos 40 anos desde a sua morte. C.S. Lewis foi um grande professor? Também acho que isso é inquestionável: ele deu aulas nas universidades de Oxford e Cambridge, e ainda hoje ensina através de seus livros. Ele foi um grande teólogo? Muitos dos maiores estudiosos cristãos de hoje acreditam firmemente que sim. Ele nunca reivindicaria nenhum desses títulos, ou mesmo os aceitaria de outros; entretanto ele era todas essas coisas e muito, muito mais.

Terra das Sombras é uma recriação fictícia de uma pequena parte da história de Jack. Na peça, você verá um homem na sua provação mais difícil, suportando o mais pesado dos fardos. Você poderá ter um vislumbre do que acontece com os grandes homens. Não é totalmente fiel à história real, talvez, e não se pretende que seja, mas é uma ótima peça, que fala profundamente aos corações dos homens.

Sabe, enquanto C.S. Lewis era um grande sábio, um grande escritor (de muitos gêneros), um grande professor e uma grande teólogo, Jack era um grande homem.

*****

Acompanhe a Semana C.S. Lewis também através do site da Sociedade Brasileira C.S. Lewis.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

As The Ruins Falls

Post #4 da Semana C.S. Lewis


Seguindo com a nossa programação especial, e na tentativa de diversificar um pouco os textos por aqui, hoje trago um poema escrito por Lewis. Quem me conhece sabe que não curto muito poesia, apesar de admirar e muito quem gosta dessa arte. Mas, sei lá, mesmo após várias tentativas, é algo que não assentou muito bem comigo.

Para agradar a todos os públicos, colocarei aqui também uma tradução e uma versão do poema de Lewis. A tradução é do professor Luiz Geraldo, mestre em inglês na Universidade Estadual do Ceará; a versão é de David Junior, integrante da EAT (Escola de Aprofundamento Teológico, que se dedica a estudar obras do Lewis), de Fortaleza.

Dedico este post a duas amigas amantes de poesia: Mima e Debby.

*****

As The Ruin Falls

All this is flashy rhetoric about loving you.
I never had a selfless thought since I was born.
I am mercenary and self-seeking through and through:
I want God, you, all friends, merely to serve my turn.

Peace, re-assurance, pleasure, are the goals I seek,
I cannot crawl one inch outside my proper skin:
I talk of love - a scholar's parrot may talk Greek -
But, self-imprisoned, always end where I begin.

Only that now you have taught me (but how late) my lack.
I see the chasm. And everything you are was making
My heart into a bridge by which I might get back
From exile, and grow man. And now the bridge is breaking.

For this I bless you as the ruin falls. The pains
You give me are more precious than all other gains.

C.S. Lewis

*****

Tradução do Prof. Luiz Geraldo:

Quando cai a ruína

Tudo não passa de retórica vistosa sobre amar você.
Eu nunca tive um pensamento altruísta desde que nasci.
Sou um mercenário egoísta sempre em minha auto-procura:
Quero Deus, você, todos os amigos, apenas servindo a mim.

Paz, garantia irrevogável, prazer, são minhas metas.
Eu não posso rastejar um centímetro fora de minha pele;
Eu falo de amor - o papagaio de um professor pode falar grego -
Mas, preso dentro de mim, sempre acabo onde comecei.

Só agora você me ensinou (mas não tardiamente) minha carência.
Vejo minha fenda profunda. E tudo que você é estava fazendo
Do meu coração uma ponte pela qual eu poderia retornar
Do exílio e crescer homem. E agora a ponte está-se quebrando.

Por isso eu a abençôo quando cai a ruína. As dores
Que você me deu são mais preciosas do que quaisquer ganhos.

*****

Versão (com rimas) de David Junior:

Quando cai a ruína

Tudo não passa de retórica vistosa sobre te amar.
Eu nunca tive um pensamento altruísta desde que nasci.
Sou um mercenário egoísta sempre a me procurar:
Quero Deus, você, todos, servindo a mim, e não a ti.

Paz, garantia, prazer, são minha meta, meu vício, meu apego.
Eu não posso rastejar um centímetro fora de mim, eu sei.
Eu falo de amor – o papagaio de um professor pode falar grego –
Mas, aprisionado dentro de mim, sempre acabo onde comecei.

Só agora você me ensinou (mas não tardiamente) minha carência.
Vejo minha fenda profunda. E tudo que você é estava tornando
Meu coração numa ponte pela qual eu podia voltar em evidência
Do exílio e crescer homem. E agora a ponte está-se quebrando.

Por isso eu a abençôo quando cai a minha ruína. As dores
Que você me deu são mais preciosas do que quaisquer louvores.

*****

Aquele que desejar utilizar estas traduções em algum blog ou site está livre para fazê-lo. O pessoal da EAT liberou este conteúdo para que a obra de Lewis possa ser mais amplamente divulgada. Só peço que não deixem de dar crédito aos respectivos tradutores. Obrigada.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Um menino em uma poltrona

Post #3 da Semana C.S. Lewis

O texto de hoje não é meu. Ele foi escrito pela Natalia Guerra, uma narniana de 17 anos com uma imaginação privilegiada. Ela mantém um blog muito legal junto com seu amigo Luiz, e foi lá que este texto foi publicado originalmente. Divirtam-se!


Um menino em uma poltrona

Era uma vez um pequeno menino chamado Clive. Certa vez, quando parou de brincar, foi se sentar na poltrona do pai. Uma poltrona alta e macia. Macia até demais, pois, quando ele se sentou, começou a afundar e afundar até que... PUF! caiu. "Aqui no fundo da poltrona é muito grande!", pensou. Logo seus olhos se acostumaram com a forte luz que surgira e ele percebeu que estava em um bosque.

- Que lugar é esse?! - Sem esperar resposta, foi se levantando para conhecer as redondezas.

- Eu chamo de Nárnia - Foi o que uma voz grave e poderosa respondeu.

O susto, e talvez o atordoamento da viagem, fizeram Clive cair instantaneamente. Virou-se em direção à voz e se deparou com um leão imenso. Aliás, não era um simples leão, era um glorioso e louvável leão. O menino percebeu claramente que o animal era dono de tudo aquilo e que deveria lhe obedecer. O Leão voltou a falar:

- Por aqui, gostam de me chamar de Aslam. Eu o conheço, Clive. E permiti que viesse para cá porque, mesmo que ainda nem saiba ler, sei que escreverá muito bem. E precisava conhecer um mundo novo, para poder escrever. Nárnia é meu mundo mais recente. Há poucas horas, as primeiras crianças, Digory e Polly, foram embora. Eu o escolhi para ser a criança que mais tempo passará em Nárnia.

E o tempo em Nárnia passou. Clive crescia e conhecia todos os moradores, como também todos os domínios narnianos. Então Aslam veio lhe visitar novamente.

- Meu filho Clive, você ainda não está pronto para voltar para casa. Precisa conhecer os sentimentos sublimes, como o amor e a paz. Por isso, a partir de agora, a cada ano você irá presentear os animais e as crianças de Nárnia. Em um só dia, distribuirá presentes para todos. Não se preocupe, pedi a algumas renas que lhe ajudassem.

Ele fez o que Aslam ordenou, por séculos. Ainda nas primeiras décadas, como era visível que envelhecia, passou a ser carinhosamente conhecido como "Papai Natal", ou simplesmente Noel.
Entre uma entrega e outra, Clive conheceu crianças vindas de seu mundo. Para algumas, deu armas ou poções, pois sabia que deveria prepará-las para as lutas. E as viu se tornarem incríveis reis e rainhas.

Clive viveu em Nárnia até o reinado de Tirian, o último monarca. Foi quando Aslam lhe foi buscar. Conversaram por longas horas e o Leão lhe contou que o fim de Nárnia estava próximo, lhe revelando como tudo aconteceria.

Agora Clive estava sentado de volta na macia poltrona de seu pai. Ainda estava atordoado. "Como Nárnia pode acabar?". Ele ainda não sabia nem ao menos ler ou escrever, mas sabia que haveria uma Nárnia ainda melhor, e eterna.

O menino cresceu, mas nunca se esqueceu de Aslam. E resolveu continuar sua missão. Agora não contava com a ajuda das renas, mas sabia exatamente como presentear as crianças. Começou a escrever.


*****

Agradeço à Natalia por ter permitido a postagem deste texto aqui.

O site da Sociedade Brasileira C.S. Lewis também está celebrando a Semana C.S. Lewis. Acompanhem clicando aqui.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Como C.S. Lewis pode te ajudar a não engordar

Post #2 da Semana C.S. Lewis

Outro dia eu estava comendo o meu bombom favorito, Ouro Branco. Eu tinha três deles. Comi um depois do almoço e depois passei a tarde inteira travando uma luta no meu íntimo. “Devo comer mais um? Devo guardar para amanhã? Que mal há em comer só mais unzinho?” A dúvida me corroeu durante todo o dia, até que me lembrei do meu autor favorito, o Jack.

C.S. Lewis, além de me arrebatar com As Crônicas de Nárnia e me colocar para pensar com seus livros sobre vida cristã, tem me saído um ótimo conselheiro sobre como perder peso. Ou melhor, sobre como não engordar.

Há alguns anos a imprensa noticiou que foi descoberta a razão pela qual as francesas são em geral tão esbeltas e elegantes, enquanto as americanas apresentam uma figura mais, digamos, rotunda. A explicação chega a ser óbvia: as belas europeias comem de tudo, porém em pequeníssimas porções. Já na terra do Tio Sam, a máxima “menos é mais” não significa muito. Lá, mais é muito mais mesmo! Super porções. Super promoções. Super gordinhos. Super doenças coronárias e diabetes. O estudo falava sobre as mulheres, mas pode muito bem se estender à população masculina.

Mal sabem os estudiosos que C.S. Lewis já falava sobre isso, à sua própria maneira, mais de 60 anos antes. Na década de 1940, ele escreveu uma trilogia de ficção científica cristã chamada comumente de Trilogia Espacial ou Trilogia de Ransom. Composta por três livros (Além do Planeta Silencioso, Perelandra e Aquela Força Medonha), ela narra as aventuras do linguista Elwin Ransom, para muitos inspirado no grande amigo de Lewis J.R.R. Tolkien. (sobre a Trilogia, os motivos que levaram Lewis a escrevê-la e a relação de Tolkien com ela, falarei em outra ocasião).

Em Perelandra, Ransom reflete mais de uma vez sobre a necessidade que temos de repetir alguma coisa que nos é prazerosa, e como essa atitude acaba estragando a coisa em si. Assim como eu fiquei na dúvida ante a possibilidade de comer mais um bombom, Ransom não sabe se prova mais uma das deliciosas frutas que comera em Perelandra, que é o planeta Vênus:


Quando deixou cair a cabaça vazia e estava prestes a puxar uma segunda, veio-lhe à cabeça que já não estava nem com fome nem com sede. E contudo o que parecia óbvio fazer era repetir um prazer tão intenso e tão espiritual. A sua razão, ou aquilo que comumente tomamos por ser a razão no nosso próprio mundo, era toda a favor de saborear de novo aquele milagre; a inocência quase infantil do fruto, os trabalhos por que passara, as incertezas do futuro, tudo era de molde a aconselhar essa ação. Todavia, havia qualquer coisa que parecia opor-se à "razão". É difícil supor que a oposição vinha do desejo, pois que desejo se afastaria de tamanha delícia? Por um motivo qualquer, parecia-lhe melhor não provar de novo. Talvez a experiência tivesse sido tão completa que repeti-la seria uma vulgaridade - como pedir para ouvir a mesma sinfonia duas vezes num dia.

Enquanto, de pé, ponderava sobre tudo aquilo, perguntando a si mesmo quantas vezes na sua vida na Terra tinha repetido prazeres não levado pelo desejo, mas em oposição a este e por obediência a um racionalismo espúrio, verificou que a luz estava a mudar.

(...)

Olhando para um molho fino de bolsas que pendiam por cima da sua cabeça, pensou com seria fácil chegar lá e enfiar-se uma pessoa naquele conjunto e sentir, logo no mesmo instante, aquele refrigério mágico multiplicado dez vezes. Mas foi detido pelo mesmo gênero de sensação que o impedira durante a noite de saborear uma segunda cabaça. Sempre detestara as pessoas que pediam a repetição da ária favorita numa ópera: "Isso só serve para estragar", fora o seu comentário. Mas isso agora lhe parecia como um princípio de aplicação muito mais lata e com mais profunda importância. Aquele desejo veemente de experimentar uma vez mais as coisas, como se a vida fosse um filme que se podia desenrolar duas vezes ou até mesmo fazer correr da frente para trás... estaria aí possivelmente a raiz de todos os males? Não: é claro que o amor ao dinheiro é que era assim chamado. Mas o dinheiro em si mesmo - pode ser que se lhe desse valor como uma defesa contra a sorte, uma garantia de se ser capaz de ter as coisas uma vez mais, um meio de fazer parar o desenrolar do filme.


Lewis era um homem à frente do seu tempo, e podemos notar isso nos trechos acima. Ainda que seja clichê chamar o dinheiro de “raiz de todos os males”, ele o faz sob uma perspectiva completamente nova. O dinheiro não é mau. Ele também não fala em ganância. Ele condena a vontade de ter o dinheiro com um certo motivo, porque é ele que permite às pessoas ter tudo aquilo de que gostam uma vez atrás da outra, ad infinitum. Isso se torna um vício, e os prazeres simples se tornam seu deus, perdendo seu valor e seu sentido.

Volto aos meus bombons. O personagem Ransom, depois de ponderar sobre o que o levava a querer repetir a prazerosa experiência de comer o fruto de Perelandra, chega à conclusão de que não deve comer outro. E nisso, devo dizer, reside a vantagem de ser um personagem fictício: é bem mais fácil resistir à tentação quando se é feito de papel e tinta. Mas eu firmo os pés bravamente. Obrigada, Jack. Com sua ajuda, me lembro que é melhor ter controle e não deixar os pequenos prazeres me dominarem.

Amanhã tem mais bombom.


*****

Não sei se você ficou interessado, mas eu recomendo veementemente a leitura da Trilogia Espacial. A obra está atualmente fora de catálogo no Brasil, mas você pode adquirir a coleção de 4 volumes, em português lusitano, pela Livraria Cultura (link para o primeiro livro da coleção; os demais estão relacionados mais abaixo na página, sendo que Aquela Força Medonha está dividido em 2 volumes).

domingo, 22 de novembro de 2009

Quem foi C.S. Lewis

Post #1 da Semana C.S. Lewis


Hoje, 22 de novembro de 2009, completam-se 66 anos da morte de Clive Staples Lewis.

Nascido em 1898, Lewis foi um homem fora do comum. Mesmo em sua época, que sempre pensamos ser toda de glamour e boas maneiras, ele era considerado um gentleman, um homem de muita educação e cultura, porém ao mesmo tempo simples e sem frescuras. Depois de muito ter lido sobre Jack, como ele gostava de ser chamado, gosto de tentar imaginar como ele era. Engraçado sem ser cômico. Econômico sem ser avarento. Reservado sem ser antipático. Sempre bem-humorado. Uma das pessoas que conviveu com ele conta que o bolso do paletó que ele usava em casa aparentava ter sido costurado e recosturado várias vezes, pois ele tinha o costume de colocar ali seu cachimbo ainda aceso.

Se você já viu o filme Terra das Sombras (1993) e acha que Lewis era como está retratado ali, esqueça. Esse filme, com Anthony Hopkins e Debra Winger, fala principalmente sobre o relacionamento de Lewis com Joy Davidman, judia americana ex-comunista que tornou-se sua esposa na década de 50. Anthony Hopkins é um bom ator, porém ele fez um Lewis muito soturno e introspectivo, um estereótipo que conhecemos dos ingleses. Nada disso. Prefiro pensar em Lewis como uma versão mais cristã e menos desbocada do comediante John Cleese, do grupo Monty Python. Pense nisso e você terá uma ideia melhor de quem foi C.S. Lewis.

Hoje em dia, provavelmente não há cristão que não conheça pelo menos uma citação de Lewis:

"Deus nunca se faz de filósofo diante de uma lavadeira."

"Tudo que não é eterno se torna eternamente inútil."

"O sofrimento é o megafone de Deus para um mundo ensurdecido."

"Você não tem uma alma; você é uma alma. Você tem um corpo."

"Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para outro mundo."

"Pois o que você ouve e vê depende do lugar em que se coloca, como depende também de quem você é."

Se as frases parecem boas assim soltas, imagine dentro do contexto! Mas, se você acha que elas parecem ter saído de algum livro de auto-ajuda, bem, o que posso dizer é que esse autor é anterior a essa infame moda, portanto podemos afirmar com certeza que a literatura de auto-ajuda banalizou e até perverteu algumas verdades bem-ditas que já circulavam por aí há muito tempo. E se tem uma coisa que Lewis era mestre em fazer, era colocar em palavras aqueles pensamentos que estavam rodopiando em nossas cabeças. Ele conseguia pegar tudo, organizar, dar sentido e ainda de quebra fazer inúmeras metáforas e comparações, só para garantir que o leitor entendesse direitinho a mensagem que ele desejava passar, a mensagem que já vem escrita em nossos corações quando nascemos, e que ecoa em todo o Universo: nós temos um anseio dentro de nós que nos atrai para Aquele que nos criou, e somente ao lado dEle podemos atingir a plenitude.

Para quem quiser saber melhor como C.S. Lewis abordou este assunto, recomendo seu livro Cristianismo Puro e Simples, Editora Martins Fontes.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Vem aí a Semana C.S. Lewis


Falta menos de um mês para a Semana C.S. Lewis, ocasião celebrada informalmente por muitos admiradores do criador de As Crônicas de Nárnia. Começando no dia 22 de novembro, data da morte de Lewis em 1963, e terminando no dia 29 de novembro, data do nascimento do autor em 1898, os lewisianos produzem textos, poesias, reúnem matérias, traduzem material para torná-lo mais acessível a outros admiradores, buscam músicas que transmitam os sentimentos e ideias de seus livros, ou simplesmente mostram textos do autor que são muito especiais em suas vidas. Tudo com o objetivo de homenagear o homem que conseguia expressar como ninguém o pensamento do crente comum.

Para dar uma prévia do que vem por aí (vocês acharam que eu ia ficar fora dessa, queridos 13 leitores?), deixo com vocês um texto do Lewis que foi publicado na revista Ultimato e que eu arrebatei do site da Sociedade Brasileira C.S. Lewis com a cordial permissão do Ron.

Boa leitura!


Dizem, às vezes, as pessoas: “A religião não me atrai”. Certa ocasião conheci uma moça que me disse: “A religião serve, desde que não exagere”. Pessoas que falam assim pensam que a religião é algo como futebol ou música, que pode servir para alguns, mas não para outros, ou que pode interessar até certo ponto, mas não além. O primeiro passo em direção à maturidade é compreender que isso não faz sentido.

O cristianismo não é um passatempo nem um remédio que se pode vender sem receita médica. Fazem-se afirmativas: Deus existe – O homem está falido – Deus tornou-Se Homem e pode transformar todos os outros homens – Nenhum outro pode fazer isto – Aqueles que não são transformados são “lançados fora”.

Se essas afirmativas são verdadeiras, elas atingem a todos e são de infinita importância. Se não são, não afetam ninguém e nenhuma importância têm. Ou nada ou infinito. Ou este fio é vivo ou não é. Sendo vivo, conduz uma corrente de voltagem infinita. O cristianismo não pode ser “mais ou menos” importante.

O Deus dos cristãos não quer isto ou aquilo de você: Ele quer você – tudo o que é seu. Isso não é exorbitante. Ele fez você: Ele Se tornou homem para recuperá-lo. (Você gostaria de tranformar-se num animal durante vários anos?) Ele o mantém vivo a cada momento. Ele lhe dá cada instante que você pensa ser seu. De fato, você é propriedade dEle e Ele o quer. Há os inimigos – dEle e seu – que também lhe querem. Se você não se entrega a Deus, então os inimigos tomá-lo-ão. A guerra entre eles e Ele é intensa demais para que alguém seja neutro. Uma pessoa que procura ser neutra será fatalmente capturada pelos inimigos. É preciso escolher o seu lado.

Alguns dizem que não podem acreditar nisso, porque sendo a terra tão pequena em relação ao universo, Deus não Se importaria com o que acontece nela. Mas um pequeno lugar pode ser de muita importância numa guerra. (Estalingrado, no mapa, parece ser um lugar muito pequeno, todavia foi o ponto estratégico na batalha de defesa da Rússia.) É por isto que insistimos: ponha todo o seu ser (cada parte tem valor) e imediatamente (cada minuto é importante) ao lado de Deus. Apresente-se para o serviço. Faça agora sua primeira oração, em qualquer lugar que esteja. Diga-lhe que você deseja lutar. Nunca soube de alguém que se arrependesse deste passo.

Sem dúvida, há muita gente boa que não é crente, assim como há muita gente boa que toma o trem errado. Mas o que importa é onde vai terminar. O trem errado parece tão bom como o outro antes da partida, e pode mesmo acompanhá-lo por uma considerável distância, mas no final ele falha e você fica na mão.

terça-feira, 28 de julho de 2009

"O quê? Você também! Pensei que eu era o único!"*


Por que Na sala de espera do mundo?

Clive Staples Lewis, ou simplesmente C.S. Lewis, é um dos autores mais influentes na minha vida. Ele é mais conhecido por ter escrito As Crônicas de Nárnia, uma série de 7 livros infanto-juvenis, mas que entretêm adultos da mesma maneira. Jack, como ele próprio escolheu ser chamado aos 4 anos, também é autor de outras obras de ficção, além de várias sobre apologética e vida cristã, e todos elas estão recheadas de verdades que, quando você lê, se pega pensando: "Caramba! Não é que é mesmo?"

Se querem entender um pouco mais por que os fãs de Lewis são sempre do tipo de carteirinha, aqui está uma estorinha. Uma vez eu me perguntei se haveria alguém que não gosta de C.S. Lewis (além do Phillip Pullman e do Neil Gaiman, é claro). Pesquisei no Google e achei uma moça americana que parecia muito chateada com ele. Em seu blog, ela dizia que o C.S. Lewis a irritava profundamente, porque toda vez que ela tinha uma boa ideia sobre algo e ia fazer uma pesquisa para começar a escrever sobre o assunto, ela descobria que Lewis já havia escrito sobre aquilo, colocando as ideias de uma maneira infinitamente melhor do que ela poderia imaginar. Assim é o Jack!


Mas eu estou aqui para explicar o nome do blog. Pois é. Lewis se referia à nossa vida na Terra como um tempo passado numa sala de espera, enquanto aguardamos a verdadeira Vida, que vai começar após nossa passagem para o próximo mundo. Some a isso o fato de que a banda Sixpence None The Richer, uma das minhas favoritas, tem uma música chamada The waiting room e voilá - eis o nome do blog. Aliás, devo mencionar aqui a Glorinha de novo, porque foi o nome do blog dela - Bela decepção - que me levou a escolher este aqui para o meu.

Então, enquanto estamos aqui nesta bela sala de espera, vamos tentar tornar a vida mais interessante!


*Frase retirada de uma citação de C.S. Lewis, que, completa, diz: "A amizade nasce no momento em que uma pessoa diz para a outra: 'O quê? Você também! Pensei que eu era o único!'" Viram como ele diz um monte de coisas legais e que pareciam óbvias, mas ninguém mais o disse antes?