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quarta-feira, 10 de março de 2010

Curso de Alemão ou Sobre Como Enlouquecer na Terra de Lutero


Olá, meus queridos 13 leitores!

Eu sei, eu sei. Tenho estado absolutamente sumida. O problema não tem sido a falta de ideias, assuntos ou acontecimentos, e sim de vergonha na cara para vir aqui e escrever sobre tudoissoqueestáaiacontecendoagora.

Não prometo que vou escrever tudo o que aconteceu desde o último post. Acho melhor trazer o blog de volta à vida falando do que é mais presente no meu dia-a-dia: o curso de alemão.

Estou quase terminando o curso de integração, que é em parte patrocinado pelo governo alemão para os imigrantes que aqui chegam. Faltam mais ou menos dois meses de aula e uma prova, e então eu terei o certificado B1. Pelo menos eu acho que vou ter, já que acredito que eu esteja indo bem no idioma. Veja bem, "ir bem num idioma" não significa o mesmo que falar fluentemente. Pelo menos, não pra mim. Eu consigo entender tudo que as professoras falam em sala, mas nas ruas a conversa é outra. A linguagem coloquial é mais rápida, às vezes abreviada, e muitas vezes enrolada. E olha, eu só deixo se identificar comigo quem já aprendeu algum idioma além do inglês. Inglês no Brasil a gente não aprende, pega por osmose. Minha mãe, de tanto assistir House, The Mentalist e CSI, já entende um bocado de coisa sem nunca ter estudado inglês. Mas uma outra língua como alemão, russo, francês, estoniano, chinês - isso sim é barra pesada. Eu me solidarizo com você, Bruder. (A propósito, espanhol e italiano também não contam, viu? São muito parecidos com o português.)

Voltando ao curso de alemão, a gente se diverte muito, seja odiando em conjunto o idioma de Goethe, seja rindo das nossas próprias dificuldades e deficiências. É comum a gente cair na gargalhada quando alguém está lendo um texto em voz alta e se depara com palavras como Verkehrsverbindung ou Gleichberechtigung. A sequência de reações do dito leitor é quase sempre igual: surpresa (com aquele monte de letras amontoadas juntas), descrença (de que exista no mundo uma palavra assim), ódio (de quem inventou o termo), desespero (por lembrar a cada segundo que é preciso aprender alemão) e, finalmente, coragem (de meter a cara e ler essa joça de qualquer jeito, seja como for!). A palavra sai, invariavelmente com a pronúncia incorreta, mas não é que a gente aprende, justamente porque foi tão difícil?

Uma das coisas que me irritam um pouco no alemão é o fato de ter um verbo muito específico para cada ação. É claro que essa minha intolerância é só porque eu ainda não domino o idioma. Tenho certeza de que, mais para frente, eu vou adorar essa especificidade. Mas, no momento, lembrar de tudo é muito difícil! Por exemplo, em alemão existe um verbo para "colocar algo sobre uma superfície": stellen. Quando o objeto já está colocado, ou seja, se ele repousa sobre uma mesa, por exemplo, aí o verbo é stehen. Porém, atenção! Esses verbos você só usa se for um objeto com base, ou seja, algo que fica em pé, como uma caixa ou um copo. Se for um lápis ou uma flor, os verbos são, respectivamente, legen e liegen. Aaaaaaaaargh!

Outra coisa que às vezes me deixa doida é a pontuação. Pois é. Em português, as orações subordinadas nunca são precedidas por vírgulas. Inclusive é um erro que me dá arrepios, quando vejo um. Brasileiro adora escrever pela internet coisas como "Eu acho, que...". Essa vírgula aí é um erro. Mas, em alemão, tem que ter essa vírgula: "Ich bin die Meinung, dass...". Ou seja, vocês têm noção de como isso me incomoda?

Mas tudo bem! Sem pressa, certo? Outro dia eu recebi uma visita 100% alemã e eu conversei com ela durante duas horas e meia apenas em alemão! Sei que cometi muitos erros, e algumas vezes eu fiz cara de dúvida e ela me ajudou. Mas o fato de ter entendido e de ter sido entendida me fez ganhar a minha semana! É muito bom olhar para trás e para o hoje e constatar que estamos progredindo.

E sabem o que é engraçado? Eu estou lendo o livro A Menina que Roubava Livros, que comprei em inglês aqui. Quem já leu sabe que tem algumas frases e palavras soltas nesse livro que são em alemão, porque a história se passa aqui durante a 2ª Guerra Mundial. Para que todos entendam o que os personagens falam, o autor às vezes faz os personagens dizerem suas frases duas vezes, uma em alemão, outra em inglês. Acreditem, às vezes me irrita um pouco, tanto por eu já ter entendido o que havia sido dito, como por achar meio nonsense a pessoa ficar dizendo a mesma coisa duas vezes. Mas eu confesso: ao mesmo tempo em que tenho esse pequeno prazer de entender algumas coisas, eu ainda consigo aprender algo novo. Isso, porém, vocês não contam para ninguém.


*****

O próximo post será sobre as curiosidades que eu aprendi sobre os países dos meus colegas de curso!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Volta às aulas

Nada como um caderno de Nárnia para alegrar as aulas!

Tirei a poeira do dicionário, busquei livros em armários e empunhei caderno novo: voltei para a escola.

Eu sempre gostei do início do ano escolar. Era muito gostoso ter cadernos e livros novos, e se possível também mochila, estojo, lapiseira, borracha e caneta. O cheirinho das páginas recém-saídas das gráficas, do material novinho, do plástico que cobria as capas de cadernos e livros. Ah, como era gostoso! (Isso perdeu um pouco da graça na universidade, quando os professores não pediam livros, e sim textos da xerox - e todo universitário sabe que xerox é enjoada, lotada, cansativa e não tem cheirinho bom coisa nenhuma!)

Bem, semana passada começou o meu curso de alemão. Em janeiro de 2008, eu já havia feito o Módulo 1, apenas o comecinho desse mesmo curso. Agora vou fazer os seis módulos básicos, inclusive repetindo o primeiro. Não quis cair de pára-quedas no Módulo 2, preferi relembrar a matéria do começo e ter a gostosa sensação de entender tudo o que a professora fala. O curso é intensivo, e está previsto para terminar em abril do ano que vem.

A minha turminha é muito legal. Tenho dez amiguinhos, cada um de um país diferente, com exceção de duas russas que dividem a nacionalidade. Os outros países são Vietnã, Turquia, Romênia, Tailândia, Egito, Moldávia, Ucrânia e Espanha. O pessoal é simpático e mostrou entrosamento logo no primeiro dia, apesar de quase ninguém ter bagagem de alemão suficiente para realmente conversar. Nossa simpatia é transmitida uns aos outros através de sorrisos de encorajamento em sala de aula.

É muito interessante poder conhecer pessoas de outros países e culturas. Apesar de às vezes me acostumar com o fato de estar na Europa e cercada de gente de tudo que é canto do mundo, de vez em quando eu me forço a lembrar que essa é uma situação que eu tenho que aprender a valorizar. Uma das coisas que gosto de fazer é observar as personalidades de cada um e tentar isolá-las das idéias pré-concebidas que se tem em relação à nacionalidade dessa pessoa, porque todo mundo (e eu me incluo nessa) tem mania de colocar rótulos, e isso não é bom. Por exemplo, o pensamento geral aqui é de que os russos, que aqui tem aos montes, vêm para cá para "mamar nas tetas do Governo" e sempre tentam conseguir algo em proveito próprio. Porém uma das russas da minha turma não tem nada a ver com isso, é simpática e esforçada, e não parece ser do tipo que sempre gosta de ter vantagem em tudo. A romena é super agradável e gentil, o que vai contra o pensamento que temos de que todo europeu - ainda mais do Leste - é arredio. O turco é risonho, diferente da idéia que eu tinha de que eles sempre são sisudos e fechadões. O espanhol é engraçado e bastante disposto a entender o meu português, o que joga contra a antipatia que podemos sentir em relação aos agentes alfandegários que trabalham nos aeroportos da Espanha, não é mesmo?

E hoje, voltando para casa, eu vim ouvindo uma música que criou um momento digno de trilha sonora da minha vida: "O Caderno", do Toquinho. A música é muito fofa, e a parte da letra que eu mais gosto é aquela que diz assim: A vida se abrirá num feroz carrossel. Alguém pode dizer que não foi isso mesmo que aconteceu?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ragetti

Prólogo explicativo bem curto: alguns dias antes desta história acontecer, meu marido e eu, juntamente com o meu sogro, havíamos ido a uma loja chamada Karstadt para comprar nossas máquinas de lavar e secar roupas. A de secar chegou logo e sem problemas, já a de lavar...


A mulher linda e o entregador bobo

PÉÉÉÉÉÉÉÉÉN!

Eu pulo na cadeira. Toda vez é a mesma coisa. Devia ter uma lei que proibisse as pessoas de colocarem um interfone tão alto num apartamento tão pequeno!

Atendo o interfone. Ele começa a cuspir palavras em alemão:

-Bla bla bla bla bla Karstadt bla!

Opa, pesquei uma palavra-chave: Karstadt. Respondo:

-Ja!

Geralmente, quando toca o interfone, eu atendo, falo "ja" (fala-se "iá", e isso significa "sim"), ouço o que falam, pesco uma palavra-chave (tipo DHL, Amazon, etc) depois digo "ja" ou "ok" e aperto o botão para abrir a porta do prédio lá embaixo. Ok, confesso que às vezes eu não entendo nada do que falam e mesmo assim abro a porta. Foi assim que uma vendedora de comida congelada veio parar na minha porta. E, se um serial killer apertar o nosso nome lá na entrada e eu atender, ele pode até dizer "Olá, sou o Hans, vim esquartejar você!" que eu vou responder alegremente "Ja!", abrir a porta do prédio, abrir a porta do apartamento e esperá-lo com um caloroso sorriso de boas-vindas em cima do meu capacho do Mickey Mouse!

Bem, continuando a história do entregador: lembram que quando eu falo o segundo "ja" eu aperto o botão pra abrir a porta, né? Então, dessa vez, depois do segundo "ja", o bendito entregador começa a tagarelar:

-Bla bla bla bla bla bla bla blaaaaá!

Hummm... o que ele está dizendo? Será que está perguntando se eu comprei uma máquina de lavar roupas? Respondo com alegria e convicção:

-Ja!

O palavrório volta. Eu não entendo o que ele diz, mas tenho boa memória e sei que foi a mesma frase de antes, mas num volume mais alto e com mais impaciência:

-Bla bla bla bla bla bla bla blaaaaá!
-Jaaaaa!!!!! - berro de volta.

Nessa hora eu fico irritada e começo a duvidar da inteligência do entregador. (Mal sabia eu que ele também estava pensando o mesmo de mim.) Resolvo abrir logo a porta do prédio lá embaixo e parar com essa conversa pelo interfone, que já estava ficando sem-graça. Abro a porta do apartamento e fico em cima do Mickey. Nisso, eu ouço o entregador falando com seu colega lá embaixo:

-Bla bla bla bla bla bla bla blaaaaá! "Ja." Bla bla bla bla bla bla bla blaaaaá! "Ja!"

Arregalo os olhos de indignação! O cara está fazendo hora com a minha cara, me imitando! Ora bolas, eu tenho culpa se ele resolveu tagarelar? Quem PEDE pro dono da casa abrir a porta? É meio que óbvio, né? Se tivesse ficado caladinho eu tinha aberto a porta logo de uma vez!

O entregador sobe, carregando a máquina nas costas. Constato com satisfação que ele é feiosinho, uma espécie de versão alemã do Ragetti, aquele pirata magrelo e com um olho de madeira que vive caindo da cara, do filme Piratas do Caribe. Pensando melhor, ele é a cópia exata do bucaneiro.

O nefasto magricela põe a máquina no chão e começa a tagarelar de novo, apontando para dois pontos na parte de trás da máquina:

-Bla bla bla bla, bla bla, hier und hier. Ok?

Hum. Hier und hier significa aqui e aqui. Olho para onde ele aponta. Tá.

-Ok - respondo. Ragetti não parece muito confiante em minhas capacidades mentais. Ele repete:

-Bla bla bla bla, bla bla, hier und hier. Ok? Nicht vergessen!! Oder kaputt!*

*(tradução: Não esqueça!! Senão, vai estragar!)

Respondo "ok" mais uma vez, doida praquele homem com cheiro de cigarro sair da minha cozinha. Ele pega uns papeis para eu assinar, eu assino e ele fica me olhando com cara de bobo. Ragetti então, finalmente, vai em direção à porta, eu ponho minha melhor cara de "não gostei de você, você é bobo e me zoou" e, já que não posso falar nenhum desaforozinho pra ele, eu executo a minha vingança suprema: bato a porta... bem, nas costas dele, porque ele já está descendo a escada, assobiando e, provavelmente, tirando mais um cigarro do bolso.