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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Aquele com o instrutor poliglota

Após 7 meses de ócio total aqui neste blog, começo mais uma tentativa de voltar à programação normal.

Durante esse período de hibernação, muita coisa aconteceu: terminei o curso de alemão, passei na prova, tirei férias, fomos à Itália, recomecei o curso de alemão, teve Copa do Mundo, o Brasil perdeu e eu tive que tirar a bandeira pendurada na janela da cozinha, a vó do David esteve aqui na Alemanha, LOST acabou, minha cunhada odiou, eu engordei, emagreci, engordei de novo, tivemos um rendez-vous frustrado em Barcelona com a Gabi e o Guiga, conheci gente nova, ganhei um Kindle (!!!), descobri que quatro amigas e uma prima estavam grávidas, duas delas já tiveram os bebês, comecei academia, esqueci umas coisas, aprendi outras e, espero, sou uma pessoa diferente do que era em março.

Como um aluno preguiçoso que só lê e resume o último capítulo de Dom Casmurro para aquele trabalho da 8ª série, vou reviver o blog com o assunto mais fácil e recente pra mim: a academia.

Hoje foi meu primeiro dia (eu disse que era recente!). Eu estava toda apreensiva porque teria que ir sozinha, e já imaginava o professor filosofando em alemão sobre os músculos e a melhor forma de desenvolvê-los enquanto eu incorporava aquela atitude de recepcionar psicopatas que vocês já conhecem. Além disso, tinha a preocupação de não estar familiarizada com a etiqueta de academia aqui na Alemanha. Minhas duas cunhadas já se matricularam em academias aqui e me deram algumas dicas, mas eu ainda ficava meio ressabiada.

Uma das coisas que me encucavam era que eu nunca via nas ruas daqui uma das coisas mais comuns no Rio: mulher andando na rua trajando roupa de ginástica. Talvez isso seja comum em outras partes do Brasil também: você vê gente assim no supermercado, na farmácia, na padaria, no shopping... (homens também devem fazer isso, mas eles malham com o mesmo tipo de roupa com que vão comprar pão, então fica difícil especificar)

Descobri depois que o motivo é que aqui quase todo mundo toma banho depois da academia ou então troca de roupa (veste calça jeans e tudo) e só vai tomar banho em casa. Então eu já me senti uma ET indo pra academia de calça preta de malha fina e casaco fino tipo esportivo (num frio de 5 graus). "Essa aí é professora de educação física", devem ter pensado de mim. Acontece que eu moro muito perto da academia e não vou pagar 50 centavos por uma ducha de 5 minutos (é, o banho na minha academia é pago, mas é porque o plano é baratinho) nem vou vestir calça jeans por cima do corpo suado só pra andar 10 minutos até o conforto do meu apartamento.

Bem, chegando à academia, fui falar com o professor que estava na recepção - aqui é chamado de personal trainer, mesmo sendo para todos os alunos. Eu tinha marcado para fazer a minha série, e até então só tinha encontrado a menina com quem eu me inscrevi na academia. Então esse professor era novo. Avisei que era nova, que não tinha a pulseirinha eletrônica ainda, e que tinha marcado pra fazer a minha série. Ele me deu uma ficha para preencher meus dados de saúde (outra diferença: nada de exames caros que você tem que fazer para começar. Minha teoria é que os alemães, como em todas as outras áreas, veem isso de forma muito prática: aos [gulp] 29 anos, eu já sei muito bem quais são meus problemas de saúde, e se eu mentir na ficha quem vai se dar mal depois sou eu, certo?) e eu preenchi tudo, só deixando o que não tinha entendido. Fui perguntar a ele, e ele me pergunta: Bist du aus Spanien oder Portugal...? Disse que era brasileira e o instrutor simplesmente começa a falar português comigo! Tipo assim, ele nem avisou primeiro que falava português - ele apenas começou a me explicar as coisas na minha língua materna e na maior sem-cerimônia! Eu esqueci um pouco o papel e fiquei meio abobalhada, e fiz a pergunta mais óbvia e idiota: "Você fala português?" E não é que o cara já esteve em Recife para aprender Capoeira e fala um português até bom? Ele me explicou algumas coisas em português e outras em alemão, mas não foi complicado. A maioria dos aparelhos eu já conhecia do Brasil. Depois, na esteira, eu fiquei rindo da 'coincidência' de ter encontrado um instrutor que fala português... e fiquei pensando que Deus é mesmo muito fofo, por ter, até nisso, me ajudado. É impressionante como umas coisas bobas e pequenas assim conseguem deixar a gente apreensiva aqui.

Mais algumas curiosidades e diferenças da academia:
-Por € 5,99/mês eu posso beber à vontade umas bebidas bizarras que tem lá. Mas eu não "assinei" esse serviço porque não sou muito chegada nos sabores de fruta que o pessoal gosta aqui.
-Na academia não é permitido usar o mesmo tênis com o qual viemos andando pela estrada afora. Tem que levar um tênis na bolsa (não pode deixar lá, apesar do vestiário imenso com uns 372 armários) e trocar para fazer exercícios. O tênis que você usa pra ir pra casa é problema seu, mas é melhor aparecer com um limpinho na bolsa no dia seguinte.
-É obrigatório o uso de uma toalha de rosto em todos os aparelhos. A gente usa pra sentar em cima ou apoiar o braço, a barriga, o tórax... onde suar, é ali que ela vai. E, na ergometria, é como no Brasil: papel toalha e spray com álcool. Achei muito engraçado umas senhoras mais velhas com toalhinhas floridinhas e estampadinhas.
-Não tem Ana Maria Braga passando na TV!!! hahahaha

O resto é exatamente como nas academias do Brasil: os sarados, os exibidos, os mais velhos, os na deles, as amigas tagarelas, as senhoras, os professores simpáticos e as recepcionistas ligeiramente patricinhas mas legais.

*****
É, acho que pra um ensaio de retorno, até que não está mal. Voltarei em breve para contar alguns eventos importantes que já passaram, como a viagem à Roma (nossa nova cidade-favorita-pra-sempre-enquanto-dure), o Kindle e meu novo priminho. Mas com calma. Não posso ir muito rápido ou irei assustar meus 13 leitores. :)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Natal na Alemanha

Decoração de Natal em Rastatt

Depois de postar sobre o nosso Réveillon, eu percebi que não havia dito nada sobre o meu primeiro Natal na Alemanha. Bem, a ordem dos posts vai ficar meio maluca, mas como estou postando tudo junto, quem chegar aqui vai acabar lendo primeiro sobre o Natal, o que faz mais sentido! Eu diria que o meu subsconsciente planejou tudo, hehehe.

Bem, Natal por aqui há muito tempo não tem muito a ver com Jesus. A não ser em igrejas cristãs, por todo lado só se fala em Papai Noel, compras e floquinhos de neve estilizados. O must são as feiras de Natal (Weihnachtsmarkt) - cada cidade faz a sua, maior ou menor. Essas feiras têm um aroma muito característico - um cheiro doce no ar, e em quase todas encontramos mais ou menos as mesmas coisas:

Glühwein Simplificando, é vinho quente acrescido de especiarias e, às vezes, mel. Mesmo para quem não é muito chegado em bebidas alcoólicas, como eu, uma bebida que te esquenta duas vezes (por ser quente e por ter álcool) não é nada mal na friaca que faz por aqui, ainda mais ao ar livre. Eu descobri que o Glühwein é um parente distante do quentão brasileiro e um primo de primeiro grau do Gløgg, uma bebida quente que experimentei na Noruega - mas que era feita com suco de frutas vermelhas em vez de vinho (lembra, Nádia?).

Lango Casamento entre a esfirra e o pastel sorriso, o lango é retangular, grande, frito, gorduroso e muito, muito gostoso. Pode vir com vários recheios: queijo, queijo com presunto, queijo com alho, alho, canela... O meu favorito é queijo com alho. Para ser perfeito, só se as feiras de Natal por aqui passassem a oferecer também cadeiras, em vez de apenas barraquinhas onde comemos em pé (e no frio).

Lango de queijo com alho

Gebrannte Mandeln Conhecida no Brasil como Beijo Quente ou Platinê (geralmente feita com amendoim), por aqui encontramos esta guloseima com vários tipos de frutas secas: amêndoa, avelã, macadâmia, nozes, amendoim... Apesar de poder ser encontrada em outras épocas do ano, é no Natal que parece fazer mais sucesso.

Chocolates Claro que não é preciso desculpa para comer chocolate, mas nessa época surgem os temáticos: Papais Noéis, árvores de Natal, bolas de enfeitar a árvore, tudo feito de chocolate.

Speculatius É um biscoito tipo amanteigado, altamente engordativo, com leve sabor de canela. Ótimo para derreter no leite quente, hmmm...

Quinquilharias e outros Além dessas iguarias, encontramos também nas feiras de Natal doces diveros, biscoitos, enfeites de Natal e brinquedos de madeira para as crianças. Tem também umas bijuterias e umas coisas esotéricas que não tem nada a ver com nada, mas está tudo lá, pronto para ser vorazmente consumido.

Em cima: quinquilharias natalinas
Embaixo: alguém se lembrou de Jesus!


E a neve?

Bem, nós ficamos bem bravos por aqui, porque nevou um pouco antes e bastante depois do Natal, mas nos dia 24, 25 e 26 propriamente ditos o chão estava sem nem unzinho traço de neve sequer. Tudo bem. Desde então, já nevou bastante e acho que matamos a vontade de ver as ruas cobertas de branco.

Der Schneemann saudando a neve

Não deixe de ler o post abaixo, sobre o nosso Réveillon em Stuttgart!

Silvester em Stuttgart

Eu e meu marido resolvemos passar o Réveillon (que aqui na Alemanha se chama Silvester) em algum lugar diferente. Diferente aqui, caros 13 leitores, significa maior, já que as prefeituras alemãs sofrem de uma preguiça generalizada de organizar uma decente queima de fogos de artifício para a noite do ano novo. Em vez disso, eles liberam geral para o povão, que pode comprar todo tipo de fogos e soltar onde der vontade. "Oh, que lindo, a participação do povo é o que faz uma verdadeira festa popular!" É. Verdadeira, mas também desorganizada e, às vezes, perigosa.

Enfim, nós partimos para Stuttgart na manhã do dia 30, com o intuito de aproveitar um pouquinho a cidade, já que no dia 31 quase tudo estaria fechado. Logo nesse primeiro dia, nossa programação incluía visitar o Museu Mercedes-Benz (clique nas fotos para ver em tamanho maior).

Fachada do museu

Nem é preciso descrever a alegria do meu marido quando entrou no prédio futurista, né? Logo de cara a gente já encontra um monte de carros: no chão, no teto, grudados nas paredes.

Todo feliz

Lá dentro, o visitante primeiro pega um elevador meio esquisito e futurista até o último andar e depois vai descendo. A exposição permanente conta a história do automóvel e exibe desde os primeiros exemplares da Mercedes até os carros-conceito, daqueles bem esquisitos e naturebas que vemos em reportagens sobre salões de automóveis.

Em cima, carros do início do século 20
Embaixo, um modelo dos anos 1950


Uma das coisas interessantes que vi lá foi a maneira como o museu fala da 2ª Guerra Mundial. Eles não tentam esconder o fato de que a Mercedes empregou trabalho forçado de judeus e outros grupos que foram isolados pelos nazistas em guetos. A exposição também esclarece que, após a Guerra, a Mercedes ainda levou um tempo para se redimir com os aliados e voltar a funcionar. Mas tudo é esclarecido de maneira bem transparente.

Alguns carros legais e "famosos" que vimos lá: um utilitário que foi utilizado nas filmagens de Jurassic Park 2 - O Mundo Perdido; um Mercedes vermelho que pertenceu à princesa Diana e que ela devolveu por causa das reclamações dos britânicos; o Papamóvel utilizado por João Paulo II; e um Safety Car da Fórmula 1.

Jurassic Park 2 - The Lost World

E por falar em Fórmula 1, a seção do museu dedicada a carros de corrida era, sem nenhuma surpresa, a mais concorrida. Numa parede com os nomes de grandes pilotos de corrida, em várias categorias, não podia faltar o nome do nosso querido Ayrton Senna. O nome do Emersn Fittipaldi está um pouco abaixo - e eu confesso que ele só saiu na foto por acaso, eu não tinha visto na hora. Acho que ver os carros lá no museu é o mais próximo que jamais estarei de um carro de F-1.

Homenagem aos pilotos
e carro de Hamilton em 2008


Mas Stuttgart não é só esse museu. Nós passeamos pelos jardins do Castelo, e ali perto ficava também um lago com a Ópera. O centro da cidade é muito bonito, com uma looonga rua só de pedestres, onde encontramos muitas lojas de roupas. Só não achamos fácil encontrar um lugar para comer - parece que o povo de lá gosta de comprar só roupas, e não comida. Deve ser para entrar nas roupas, né? Enfim, o que nos salvou foi uma pseudo-e-tardia-feirinha de Natal que estava ali provavelmente só para incrementar a cena em volta da pista artificial de patinação no gelo, mas que tinha pão com salsicha e batata frita. Por falar nisso, Stuttgart tem uma das feiras de Natal maiores e mais famosas aqui da Alemanha. Dizem que é enorme e muito bonita.

Ópera de Stuttgart

No dia 31, visitamos a Stuttgart Fernsehturm (Torre de TV), uma das poucas atrações que estavam abertas. A torre foi a primeira do mundo feita de concreto, e foi terminada em 1956, servindo de modelo para várias outras pelo mundo afora. O topo da torre fica a 153m do chão, que por sua vez está a 483m acima do mar. Nós subimos até o alto da torre, e lá de cima pudemos apreciar a vista, ver um pôr do sol muito bonito e até mesmo pegar um vento gelado que se converteu em um resfriado alguns dias depois!!!

Fernsehturm: altas aventuras e muito frio!!!

Agora só resta falar sobre a festa de Réveillon propriamente dita. É claro que é legal para o povo poder soltar fogos. Afinal, é o único dia do ano em que eles podem "soltar a franga" por aqui, nesse sentido. Poder fazer barulho após as 20h pelo visto é um prazer inenarrável pra galera. E não é feio, mas eu senti falta de uma coisa mais organizada. Outra coisa que me deixou meio assim, cabreira, foi o fato do pessoal soltar fogos pra tudo que é lado: pra cima, pra baixo, pros lados... tem gente que não sabe brincar, então nós achamos um cantinho para observar tudo sem sermos perturbados com fogos estalando literalmente na nossa cabeça.

Reparem no sujeito soltando fogos direto da mão

Depois de ver bastante fogos, voltamos para o hotel de metrô. Nada de festa, nem comilança. No dia 1º voltamos para casa, com saudade do nosso cantinho mas também lamentando deixar Stu, que é muito bonitinha. E esse, meus queridos 13 leitores, foi o nosso Réveillon em Stuttgart. Já estamos fazendo planos para o próximo. Quem tiver alguma dica, é só deixar nos comentários.